Meu filho vai à terapia para brincar?
Não é incomum que a criança que vai para a terapia relate a sessão para seus pais dizendo: “ah foi legal, eu brinquei”. Isso pode levar a família a imaginar que a sessão foi apenas um momento de brincadeiras e acaba gerando algumas dúvidas nos pais, mas calma, que não é bem assim. Não é porque as sessões partem de brincadeiras, que o atendimento terapêutico não acontece.
Então, qual é a diferença entre a brincadeira normal e a ludoterapia?
A ludoterapia escolhe a brincadeira como linguagem. O adulto vai para terapia e geralmente se expressa por meio da fala. Já a criança, mesmo que saiba falar, se expressa predominantemente a partir do brincar. É através da brincadeira que a criança revela conteúdos sobre sua personalidade, sobre experiências, traumas, e seu estilo de contato com o mundo.
O jeito que a criança brinca revela como ela atua no mundo e isso nos dá os elementos necessários para trabalhar os conteúdos emocionais e fazer da sessão um momento rico de aprendizado e transformação na vida dos pequenos!
Dentro dos facilitadores da psicoterapia infantil podemos citar as brincadeiras de faz de conta e, com elas, o uso do que eu chamo de “família terapêutica”, os meus bonequinhos de feltro.
A partir dos 2 anos, a criança consegue entender que coisas podem simbolizar outras coisas. Por exemplo: um prendedor pode simbolizar um avião. E essa possibilidade de compreensão simbólica permite que a partir do uso dos bonequinhos e brinquedos a criança expresse sua experiência no mundo. A criança une a sua visão à visão que ela tem sobre o mundo (objetos simbólicos) para poder criar narrativas.
Na brincadeira com os bonequinhos, a criança também pode experimentar sentimentos variados: raiva, tristeza, felicidade, muito medo, maior facilidade, dificuldade, etc. E quando se é possível trabalhar todos esses conteúdos emocionais podemos inclusive apoia-la a descobrir novas possibilidades de ser.
Isso não quer dizer que a história montada pela criança revele exatamente o que ela vive, mas muitos elementos cotidianos estão presentes porque faz parte de seu repertório construído. E a partir deste repertório que a gente consegue entender a dinâmica da criança e propor as intervenções.