Sobre nitidez e distorções.
Vez ou outra eu me pego pensando como eu “sofro à toa” imaginando o problema, uma vez que quando ele chega não é tão difícil assim lidar. Muitas situações e experiências parecem mais assustadoras à distância do que quando nos aproximamos um pouco mais. Parece um jogo de percepção não é?
E em certo ponto é. Sobre essa ação de sofrer por antecipação penso em dois aspectos que influenciam nossas distorções: pouca nitidez sobre o problema, e dificuldade em identificar potencialidades.
Um problema que imaginamos, que não está no presente, não é nítido. Pense comigo em uma conversa difícil mas necessária. Muitos de nós ao imaginar a situação levantamos uma série de possibilidades catastróficas sobre a reação do outro e sobre nossa própria reação (alô Dona Ansiedade!). E quanto mais vazão damos a esse suposto super poder de adivinhar as coisas, mais complexa e penosa fica a experiência. Por outro lado, o problema real que exige de nós uma ação no aqui e agora por mais complexo que seja é nítido: sabemos qual é a situação e isso nos conduz a soluções também reais. O problema real cansa, mas o imaginário paralisa.
A ausência de nitidez agiganta o suposto problema e também apequena nossos recursos. Quero dizer, quanto mais cabeluda a situação imaginada, mais pensamos que simplesmente não vamos dar conta de solucionar a questão. Mesmo que concordamos que todo ser tem potencialidades, quando estamos presos no medo esquecemos da nossa própria potência. Esquecemos quantas experiências difíceis já superamos, ou até mesmo como nos transformamos ao longo da vida.
Talvez um caminho possível seja inverter a ordem e nos concentrarmos mais em reconhecer, desenvolver potencialidades para lidarmos com os problemas reais quando eles aparecerem com mais nitidez. E resistir a tentação de gastar muita energia em algo que não está aqui e agora.